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Desemprego Intelectual

Achei super interessante essa matéria. Ilustra um pouco da nossa realidade e caiu bem para nosso Blog. Um diploma não garante um emprego e olha que os entrevistados possuem um curriculum invejável. Eu mesmo sinto na pele e vivo a mesma situação. Mas sigamos em frente em nossa busca. Abraços a todos, um feliz ano de 2008 que se aproxima e, que seja repleto de realizações e conquistas e quem sabe - com um emprego novo.

Artigo publicado na Revista Época - capturado na Internet

Com diploma, sem emprego . Fizeram faculdade, mas não atuam na área. "Desemprego intelectual" afeta quatro em cada grupo de dez diplomados

pot RICARDO MENDONÇA

A crise de empregos que assola o país produz um fenômeno ainda pouco estudado pelos acadêmicos: o chamado desemprego intelectual. O conceito, criado na Itália, designa tanto aqueles profissionais com formação universitária que se sentam nos bancos de praça devorando os classificados de jornal, quanto aqueles que têm formação superior numa determinada área, mas trabalham em outra, totalmente diferente - e que geralmente exige menor escolaridade. É o caso do engenheiro que virou comerciante, da psicóloga que ganha a vida vendendo bombons caseiros e do arquiteto que garante que apenas 'está' taxista.
A pedido de ÉPOCA, o economista Cláudio Dedecca, professor da Unicamp, cruzou dados do Censo do ano 2000 para dimensionar o problema e chegou a dados inéditos. De acordo com seu estudo, restrito ao Estado de São Paulo, 37% das pessoas com formação superior exercem atividades profissionais que não exigem curso universitário. Mas, como aponta a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios, outros 3,7% da população com mais de 15 anos de estudo estão desempregados. Assim, pode-se estimar que pelo menos quatro em cada dez pessoas que investiram tempo, dinheiro e dedicação numa faculdade não aproveitam nada do conhecimento adquirido no mercado de trabalho.
Outras evidências do fenômeno do diplomado desempregado ou mal-empregado podem ser vistas no dia-a-dia das empresas de recolocação profissional. 'Programas de trainee hoje chegam a ter 5 mil candidatos para 30 vagas. É estarrecedor', diz João Rodrigues Filho, vice-presidente do Grupo Foco, uma consultoria de RH. O perfil dos desempregados com diploma é variado. Vai do jovem recém-formado que ainda não achou o primeiro emprego ao ex-funcionário de estatal que foi demitido na privatização e não consegue achar um trabalho. A economista Vanilda Paiva, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), estuda a deterioração das condições de vida de médicos e professores e detectou um fenômeno curioso em escolas e hospitais do Rio de Janeiro. 'Para complementar a renda, que caiu muito, professoras e médicas compram produtos domésticos no atacado e os vendem, como camelôs, no ambiente de trabalho. Vendem também bolo, sutiã, perfume, coisas que muitas não podem mais comprar em shopping', explica. Parte desses sacoleiros são profissionais que trabalhavam nesses lugares e foram demitidos recentemente.


No Brasil, o desemprego das pessoas que não têm estudo é um fenômeno maior e mais grave. Mestres ou doutores, ainda que fiquem mofando em casa, não são encontrados nos cruzamentos pedindo esmola. A falta de vagas para os diplomados, no entanto, traz problemas inéditos para o país, e que de maneira alguma devem ser desprezados. O primeiro tem a ver com o desperdício de investimento. Com enormes restrições orçamentárias, o Brasil tem muita dificuldade para conseguir educar adequadamente a população, o que resulta numa mão-de-obra pouco qualificada e pouco produtiva. Dos 87 milhões de brasileiros com idade entre 20 e 59 anos, apenas 6,2% têm ensino superior completo. Logo, o país não poderia dar-se ao luxo de subaproveitar os poucos formados que tem. É paradoxal que faltem vagas para diplomados num país onde a escolaridade média é de apenas seis anos. Mais grave é quando se constata que esse dispêndio em educação muitas vezes foi feito pelo próprio Estado, no caso dos que se formaram em universidades públicas. De acordo com o cálculo mais recente (de 1998) do Ministério da Educação, um estudante de instituição pública no Brasil custa cerca de R$ 9.800 por ano. Em cinco anos, portanto, um estudante consome quase R$ 50 mil do Estado. É muito investimento para ser aplicado somente na pesquisa de anúncios classificados.

SUPERGRADUADA SEM EMPREGO

Ela tem mestrado, doutorado e dois idiomas, mas não acha vaga

A engenheira civil Laura Bizzo, de 32 anos, tem mestrado e doutorado em universidade pública, fala inglês e francês. Mesmo assim, está há dois anos desempregada. Nesse período, apesar de ter enviado dezenas de currículos, tudo o que conseguiu foi uma entrevista: a empresa queria uma secretária bilíngüe. Como nada conseguiu, resolveu tentar o pós-doutorado. 'É triste. Teve consultor que me recomendou tirar o doutorado do currículo.'

ARQUITETA - PINTORA

Formada há 21 anos, só conseguiu trabalhar dois anos .

R. Maschietto, de 44 anos, é formada desde 1982, mas trabalhou apenas dois anos em sua área. Quando engravidou, deixou o serviço, pois o salário não pagava sequer a creche. Nunca mais conseguiu voltar. A solução foi partir para a decoração e pequenos serviços. Atualmente ela trabalha com pintura de tecidos, o que considera 'um exercício de criatividade', já que rende pouco. 'Ainda mando currículos, mas é tudo em vão. Estou há muito tempo fora do mercado', diz.

SÓ PARA GANHAR POUCO


De 1989 a 2001, em cada dez vagas criadas no mercado de trabalho, sete foram para atividades de baixa remuneração

3 para serviços domésticos
2 para ambulantes
1 para limpeza
1 para segurança

Embora não haja estatísticas sobre isso, supõe-se que, na maioria dos casos, o investimento em educação não foi feito pelo Estado, mas por uma família, que bancou uma faculdade particular, crente que ela iria garantir melhores condições de vida a seus herdeiros. 'O que dizer a alguém que ouviu a vida inteira que precisava estudar para ter uma carreira e agora não consegue nem o primeiro emprego?', pergunta o consultor Francisco Ramirez, vice-presidente da Fesa, empresa de recrutamento de executivos. Segundo ele, a quantidade de gente qualificada que procura sua empresa nunca foi tão grande como nos últimos dois anos. 'Na minha época, a situação era o inverso. Eu me formei em psicologia em 1972 e, oito dias após a formatura, já estava empregado no RH do Citibank, trabalhando como selecionador de pessoal. Era um cargo importante dado a um recém-formado numa empresa de porte, algo impossível de imaginar hoje', conta.

O aumento da dificuldade dos diplomados no mercado de trabalho se explica por uma conjunção de fatores que mistura baixo crescimento econômico, demografia e aumento notável do número de pessoas com nível superior, o que não é exatamente ruim. Dos três itens, quase só se ouve falar do primeiro. Desde o fim do 'milagre econômico', nos anos 70, a economia do país está praticamente parada. De 1968 a 1980, o Brasil cresceu, em média, 9% ao ano. Em 1973, o Produto Interno Bruto (PIB) saltou incríveis 14%. Com isso, havia escassez de mão-de-obra em todos os níveis. Sobravam empregos no comércio e nas indústrias, do chão de fábrica ao escritório de engenharia. Dos anos 80 para cá, no entanto, houve redução drástica desse ritmo. O período que vai de 1981 a 1990 terminou batizado como 'a década perdida', e nos anos 90 a expectativa de reversão não se concretizou - o decênio foi apelidado de 'década frustrada', com números na faixa dos 3%. A taxa de 2003 será ainda mais medíocre, abaixo de 1%. De acordo com os economistas, o Brasil precisaria crescer 5% ao ano para conseguir empregar a mão-de-obra despejada anualmente no mercado.

EMPRESÁRIO FORÇADO

Para não ser pego de surpresa, pediu a conta e abriu um negócio

O economista e engenheiro Sokan Young, de 51 anos, encontrou na agência de turismo da família a saída para a falta de emprego. Formado pela Universidade de São Paulo, ele chegou a fazer até mestrado. Mas a sólida formação não foi suficiente para Sokan resistir à crise dos anos 90. Depois de 15 anos na Mercedes-Benz, entrou no programa de demissão voluntária quando a empresa ameaçou sair do país, em 1989, e nunca mais exerceu a engenharia. 'Toda a minha qualificação, paga pela sociedade, foi perdida', diz.

A falta de crescimento econômico provoca desemprego duradouro e arrocho salarial entre os que têm menos estudo, problemas gravíssimos que potencializam a pobreza. Para os que estudaram, o drama é a falta de vagas compatíveis com o conhecimento adquirido - o que também se traduz em remunerações menores.

Numa apresentação recente feita para a Comissão de Políticas Públicas para a Juventude da Câmara dos Deputados, Pochmann mostrou que de 1989 a 2001 foram criados 19,5 milhões de vagas no mercado de trabalho brasileiro e cortados outros 7,7 milhões. Por si só, o saldo de 11,8 milhões já ficou muito abaixo da 'demanda' de 17,7 milhões de pessoas que entraram no mercado nesse mesmo período. Há, porém, um segundo problema. Das vagas criadas, sete em cada dez foram para ocupações de baixíssima remuneração, como empregada doméstica, camelô e segurança de boate.

Na cidade de São Paulo há 45 mil desempregados com diploma na mão. A situação é pior que entre os analfabetos - são 24 mil procurando emprego

Outro fator que dificulta a conquista de um emprego é o demográfico. Os jovens que hoje saem da faculdade são a última leva de um tempo em que a população crescia 3% ao ano, índice bem superior ao atual. Com isso, a concorrência entre pessoas da mesma idade é enorme. Nos anos 70, quando a economia do país crescia bem, a taxa alta de fecundidade ajudava, pois garantia mão-de-obra para sustentar o crescimento. Quando o país parou de crescer, o aumento populacional virou um problema. Como a população brasileira agora cresce 1,5% ao ano, os filhos dos jovens desempregados de hoje provavelmente não terão tantos problemas para se empregar. Calcula-se que o mercado deixará de sofrer com a pressão demográfica entre 2005 e 2010.

A terceira causa do aumento da dificuldade dos diplomados é a melhoria da escolaridade do brasileiro nos últimos anos. Esse dado, em tese, seria positivo. Mas, quando o país não cresce, ele potencializa o desemprego intelectual. De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), do fim dos anos 70 até a metade dos anos 90 o número de diplomados no Brasil cresceu de 200 mil por ano para 250 mil, ou seja, 25% em duas décadas. A partir de 1995, porém, o ritmo ficou muito mais acelerado. Em 2001, o total de formandos saltou para 396 mil, um aumento de quase 60% em meia década. 'Nos últimos anos, o diploma se desvalorizou no mundo inteiro. No Brasil, sem crescimento econômico, mas com a explosão da oferta de bacharéis, a desvalorização foi ainda maior', diz o economista Cláudio Salm, ex-professor da UFRJ. 'Isso não quer dizer que não vale a pena fazer faculdade. Como a desigualdade dos salários no Brasil é enorme, o diploma ainda é um diferencial', completa.


O economista Dedecca identifica nisso mais um prejuízo para o país: a incapacidade de obter ganhos de produtividade mesmo com uma mão-de-obra mais qualificada. Segundo ele, quando há estagnação econômica, o aproveitamento da boa qualificação das pessoas é nulo. 'As pessoas estudam mais, a escolaridade melhora, mas, como a economia não cresce, as empresas não conseguem aproveitar essa melhoria da qualificação.'

Embora possuir um diploma universitário hoje não tenha o mesmo significado do passado, não há por que acreditar que não valha a pena estudar. Mesmo para o país, que hoje desperdiça talentos, é muito melhor ter uma mão-de-obra disponível qualificada do que despreparada. Até porque, quando o Brasil voltar a crescer, a tendência é que as empresas passem a procurar os diplomados. Que isso sirva ao menos de consolo.

PSICOTERAPEUTA-ARTESÃ

Saiu da profissão por causa da gravidez e nunca mais voltou

A gaúcha Laíse Schreinert, de 45 anos, é uma psicóloga que virou artesã. Formada pela Pontifícia Universidade Católica, chegou a trabalhar 14 anos como terapeuta, mas hoje cuida de uma loja de artesanato, ofício descoberto quando passou por uma gravidez de risco. 'Parei de cuidar da cabeça para trabalhar com as mãos. No começo, tinha vergonha de me apresentar como artesã. Mas as encomendas cresceram e voltar para a terapia seria difícil. Precisei ter coragem', conta.

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