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Síndrome de Burnout: um problema profissional

O trabalho no mundo contemporâneo é visto como uma das principais causas de estresse na população. É possível encontrar uma parcela de pessoas que conseguem encará-lo como fonte de prazer e de conquistas sejam elas materiais ou subjetivas. Entretanto, fatores como o alto nível de competitividade, a pressão pela produtividade e resultados, os conflitos decorrentes da má qualidade das relações dentro de uma organização, a complexa hierarquia de cargos e funções aliada à escassez de tempo livre, são alguns dos problemas que predispõem o homem contemporâneo ao estresse ocupacional.
 Vamos aqui falar sobre a Síndrome de Burnout (SB), que é definida como uma das conseqüências mais graves do estresse ocupacional, e que se caracteriza por levar o indivíduo à exaustão emocional, avaliação negativa de si mesmo, depressão e insensibilidade com relação à quase tudo e todos[1].
 A descoberta da SB se deu na década de 1970, e nessa época os estudiosos acreditavam se tratar de um problema que acometia especificamente os profissionais de saúde. No entanto, tempos mais tarde pesquisas mostraram que a SB pode afetar qualquer pessoa, do executivo à dona de casa, embora exista uma predisposição muito maior em profissionais cujas funções se caracterizam pela assistência direta a outras pessoas, e que mantêm uma relação especialmente de ajuda (médicos, enfermeiros, psicólogos, professores, assistentes sociais, policiais, bombeiros, carcereiros, atendentes de telemarketing, entre outros). 1, [2][3]
 Uma triste curiosidade na etiologia da SB é que os profissionais mais motivados para o trabalho encontram-se mais sujeitos à síndrome. À medida que esses profissionais depositam energia e afeto em suas tarefas, esperam receber um retorno à altura de seus investimentos, e como essa recompensa nem sempre acontece, surge o esgotamento. Do ponto de vista psicodinâmico, o que ocorre com essas pessoas é uma falha no mecanismo da sublimação. Esse processo descrito por Freud, consiste na transformação de uma atividade sem qualquer ligação aparente com a sexualidade, em uma fonte de prazer, em geral por meio da valorização de atitudes socialmente aceitas e aprovadas, como é o caso do trabalho. [4]
 O quadro clínico da SB pode ser identificado pelas seguintes características: 1



1.           Esgotamento emocional, com diminuição e perda de recursos emocionais
 2.           Despersonalização ou desumanização, que consiste no desenvolvimento de atitudes negativas, de insensibilidade ou de cinismo para com outras pessoas no trabalho ou no serviço prestado.
 3.           Sintomas físicos de esgotamento, tais como cansaço e mal estar geral.
 4.           Manifestações emocionais do tipo: falta de realização pessoal, tendências a avaliar o próprio trabalho de forma negativa, vivências de insuficiência profissional, sentimentos de vazio, fracasso, impotência, baixa auto-estima.
 5.           É freqüente irritabilidade, inquietude, dificuldade para a concentração, baixa tolerância à frustração, comportamentos paranóides e/ou agressivos para com os clientes, companheiros e para com a própria família.
 6.           A SB pode resultar em Transtornos Psicossomáticos como fadiga crônica, freqüentes dores de cabeça, problemas com o sono, úlceras digestivas, hipertensão arterial, e outras desordens gastrintestinais, perda de peso, dores musculares e de coluna, alergias, etc.
 7.           Manifestações comportamentais: consumo aumentado de café, álcool, fármacos e drogas ilegais, absenteísmo, baixo rendimento pessoal, distanciamento afetivo dos clientes e companheiros como forma de proteção, aborrecimento constante, atitude cínica, impaciência e irritabilidade, sentimento de onipotência, desorientação, incapacidade de concentração, sentimentos depressivos, freqüentes conflitos interpessoais no ambiente de trabalho e dentro da própria família.  





 O início do quadro de SB é insidioso, com o surgimento dos sintomas ocorrendo paulatinamente e oscilando em sua intensidade. Na maior parte dos casos são os colegas que percebem a diferença nas atitudes do sujeito, embora exista uma forte tendência de sua parte em negar essa percepção. Entre 5% e 10% das pessoas acometidas pela SB atinge um estágio considerado irreversível, no qual os sintomas atingem tamanha gravidade que o sujeito é impelido a deixar o trabalho. Nesse nível são comuns os casos de alcoolismo, drogadicção, idéias ou tentativas de suicídio e doenças mais graves como câncer ou acidentes cardiovasculares. 1
 Vale ressaltar que a SB não e um problema unicamente do sujeito, mas potencialmente do seu local de trabalho. A prevenção ainda é considerada o melhor a ser feito dentro de qualquer organização, em relação a qualquer possibilidade de problema. E dentro das estratégias de prevenção da SB, a qualidade das relações entre os companheiros de trabalho se destaca como a principal delas, além é claro, de uma adequada estrutura de trabalho e da organização.
 Dentro da organização, as alterações na estrutura do trabalho são essenciais como medida de prevenção ou mesmo de intervenção quando a SB encontra-se presente. Redefinir e reorganizar os processos de execução de suas atividades, a fim de que o trabalhador perceba a importância de seus esforços no resultado do produto ou serviço prestado é fundamental, além de promover maior motivação. Uma rede de suporte social, na qual os trabalhadores possam compartilhar experiências e sentimentos em relação ao trabalho dentro de um clima de respeito e conforto emocional mútuo é outro ponto relevante. A continuidade no aprimoramento técnico e interpessoal do profissional, que promove no indivíduo habilidades para atuar em equipe e de forma adequada para suprir as necessidades de sua demanda de clientes, apresenta-se como uma estratégia eficaz de redução da SB. Por último, destaca-se o feedback contínuo sobre o desempenho do profissional, mostrando-lhe os pontos negativos que devem ser melhorados, bem como suas ações bem sucedidas, favorecendo a auto-estima e a motivação do indivíduo.4
 A psicoterapia individual é bastante recomendada nesses casos, a fim de que o sujeito possa conscientizar-se dos processos intrínsecos que o predispõe ao fenômeno. Assim, compreende-se que a psicoterapia leva o indivíduo a um auto-conhecimento necessário para a partir de então, fornecer ferramentas para que o mesmo possa modificar os comportamentos que lhe trazem problemas e fortalecer aqueles que lhe ofereçam satisfação.
 Referências bibliográficas
 [1] http://www.psiqweb.med.br/cursos/stress4.html
[2] Viveiros M. Excesso de trabalho pode provocar a síndrome de burnout. http://folhaonline.com.br, em 04/11/2004.

[3] Pera G, Serra-Prat M. Prevalencia del sindrome del quemado y estudio de los factores asociados en los trabajadores de um hospital comarcal. Gaceta Sanitária, 16 (6), Barcelona, nov/dez 2002.





[4] Alexander F. Fundamentos da psicanálise. Zahar Editores: Rio de Janeiro, 1976.

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